Após 20 anos, SP procura saída para coibir uso de crack

Os primeiros registros da chegada do crack em São Paulo surgiram em 1989, quando foram identificados os pioneiros no consumo da droga. De lá para cá, muita coisa mudou: a cidade elegeu cinco prefeitos, a pedra foi modificada quimicamente, o consumo cresceu e uma legião de dependentes se formou. O que não mudou foi o ponto de tráfico e consumo. No bairro da Luz, centro da capital paulista, a região conhecida como Cracolândia reúne diariamente centenas de pessoas de todos os níveis sociais que compram e utilizam a droga quase livremente. A presença da polícia na região parece não incomodar os usuários. A cada abordagem dos PMs, os grupos se dispersam - para, em seguida, voltar e continuar tragar seus charutos improvisados.
A partir desta quinta-feira, o Terra inicia uma série de reportagens sobre os impactos causados pelo crack nos últimos 20 anos. Para discutir formas de reduzir ou acabar o tráfico e a dependência da droga, foram ouvidas autoridades públicas, médicos, usuários, pesquisadores, comerciantes e policiais. A série de reportagens será acompanhada de um ensaio fotográfico feito pelo repórter Reinaldo Marques, que passou uma noite na região para registrar o cotidiano dos usuários.
A droga passou a ser produzida na própria cidade de São Paulo, em pequenos laboratórios improvisados. Dois fatores pesaram essencialmente a sua difusão. O crack torna a pessoa mais dependente, o que resulta em um consumo maior. Vendida em pequenas pedras, é mais lucrativa que a cocaína.
Para o vício do crack atingir o índice atual, os traficantes montaram uma "estratégia de mercado" no início dos anos 90, conforme explica o pesquisador Lúcio Garcia de Oliveira, que defendeu tese de doutorado sobre o assunto na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "No início dos anos 90, a droga não era muito acessível, e houve uma estratégia para que os usuários de outros entorpecentes experimentassem crack. Eles esgotaram as demais drogas do mercado e foram ofertando a novidade. Já na metade da década, o consumo era expressivo", disse.
Embora não tão visível, o problema também se multiplica nos bairros periféricos. Viciados relatam que é possível encontrar a droga em cada esquina. Especialistas de saúde dizem que o consumo do crack invariavelmente vem depois do consumo de outras drogas. As portas de entrada mais comuns são o álcool, a maconha e a cocaína.
Segundo o pesquisador, algo que chama a atenção é que o preço da droga se manteve praticamente estável nestes 20 anos. O que caiu foi a qualidade do produto. "A pedra que se vendia há 20 anos não tem quase nada a ver com o que se vende hoje. Antigamente, era uma pedra cor de café com leite. Hoje, o que se vende é algo que tem tanta mistura, tanto bicarbonato, que parece uma pipoca no cachimbo. Depois de acesa, ela cresce e forma uma espuma".
A avaliação é que a droga de hoje é mais danosa que no passado. A sensação relatada por usuários, de prazer e desconexão, deixou de existir, de acordo com o pesquisador. "Hoje, se fuma e não se sente mais isso. Já cai direto no aspecto negativo, na necessidade de se fumar mais. Muitos usuários nem veem mais a pedra. Comparam pedaços de papel alumínio com farelo", diz.
RotinaO comerciante Rogério de Souza, 44 anos, convive diariamente com os usuários da região da cracolândia. Diz que a situação vivida hoje é um "deboche". Proprietário de um açougue, diz ter perdido muitos clientes com o problema. "Hoje, quem compra aqui são os moradores dos arredores. Quem é de fora não se arrisca a vir."
Há 16 anos no local, ele disse ter visto a transição da região. Antes, marcada por prostituição e trombadões que agiam no centro, hoje é tomada por viciados. "Os ladrões acabaram presos ou mortos. Com a chegada do crack, até mesmo as prostitutas se afastaram. O que era antes a 'Boca do Lixo', hoje é isso que se vê aqui. Uma legião de zumbis, que passam dia e noite em função da pedra. Pela manhã é uma sujeira imensa que sobra. E todo o dia a 'festa' recomeça."
A coordenadora de Saúde Mental do Município de São Paulo, Rosângela Elias, afirma que o tratamento dos viciados em crack é difícil, principalmente porque a droga está sempre associada a outras. "Há muitas recaídas, mas o que propomos é um tratamento que passa pelo usuário, com a inclusão da família no processo, e a reinserção na sociedade. É uma história longa, mas gratificante", diz.
Usuário de crack há 16 anos, o desempregado S.M.A., 35 anos, está em tratamento há mais de um ano e chegou a cumprir mais de seis anos de pena por dois assaltos realizados para sustentar o vício. No dia da entrevista, confessou que havia utilizado a droga nas últimas 24 horas. "É muito difícil sair. Isso (o crack) vai te matando. É só sair na rua que dá vontade de usar", afirma.
Combate ao crack
Na última quarta-feira, as autoridades do Estado e do município anunciaram um plano de ação que envolve profissionais ligados aos setores de saúde e assistência social, acompanhados pelo Ministério Público, a Vara da Infância e Juventude e os conselhos turelares, entre outros.
A ideia é diminuir a incidência do uso de drogas na região, oferecendo tratamento psiquiátrico e atividades complementares para esses usuários. No histórico destes 20 anos, sempre se falou, em tese, sobre o que precisaria ser feito. Tentativas foram feitas, mas fracassaram. Há dois anos, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (DEM) chegou a anunciar o fim da cracolândia, com o anúncio do projeto Nova Luz. Em pouco tempo ela voltou mais forte, após se deslocar apenas alguns quarteirões.
Nesta sexta-feira, a história de três usuários de crack que, em tratamento, lutam para deixar a droga.

Vagner Magalhães
Fonte:
Redação Terra

Municípios do ABC debatem toque de recolher para jovens

Projeto do vereador Marcos Cortez (PSDB), de Santo André, propõe a medida para os adolescentes da cidade.
SÃO PAULO - Representantes de sete municípios do Grande ABC, na região metropolitana de São Paulo, declararam-se contra a adoção do toque de recolher para proibir a permanência, nas ruas, de adolescentes desacompanhados dos pais entre a meia-noite e as 6 horas. A posicionamento foi anunciado nesta segunda-feira, 6, em reunião do grupo de trabalho Criança Prioridade 1, do Conselho Intermunicipal do Grande ABC, que debateu o projeto do vereador Marcos Cortez (PSDB), de Santo André, que propõe o toque de recolher. Para os integrantes do grupo, uma decisão desse tipo é ilegal por ferir artigos da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente, como já se posicionou o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda ).Segundo o Secretário de Inclusão Social de Santo André, Ademar Carlos de Oliveira, que participou da reunião, "o toque de recolher é um regime de exceção, o que não é o caso dos municípios brasileiros. Vivemos uma situação bem delicada, onde jovens e crianças estão expostos constantemente a situações de violência. Mas não estamos em regime de exceção e medidas como essa não combinam com o Estado democrático".Para o secretário, o comportamento dos adolescentes reflete as dificuldades atuais do sistema de educação e as fragilidades de valores éticos e princípios familiares. "Muitas crianças estão subordinadas à violência doméstica e à dependência química. Deixar o adolescente retido no lar não significa que ele estará livre do abuso e da exploração sexual virtual por internet e celular", argumenta.O debate, no entanto, continua em municípios como o de Santo André, onde a Câmara Municipal ainda vai discutir o projeto do vereador Marcos Cortez . Atualmente, o toque de recolher foi adotado em três cidades do interior paulista: Fernandópolis, Ilha Solteira e Itapura.

Fonte: Site do Estadão (06/07/2009)

Drogas, no mundo e no Brasil

Foi em tom de comemoração que o Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (Unodc) divulgou o Relatório Mundial sobre Drogas 2009, no qual celebra os cem anos de campanhas contra elas, tidos como um dos resultados mais positivos da cooperação internacional. E realmente, o mundo tem motivos para comemorar, porquanto, segundo o relatório, "o mercado global de cocaína, de US$ 50 bilhões, sofreu abalos sísmicos", tendo a produção caído em 15% - a maior queda em cinco anos. Mas, no Brasil, não há motivo para se comemorar coisa alguma, pois, ao contrário do que ocorre no mundo, o consumo de cocaína quase dobrou em três anos - com o número de brasileiros hoje viciados nessa droga chegando à casa dos 890 mil. E o mais grave é que aqui houve um aumento substancial do consumo de crack, derivado mais barato e mais maléfico da cocaína, cujos volumes de apreensão triplicaram, indo de 145 mil para 578 mil quilos. Como diz Bo Mathiasen, representante da Unodc em nosso país, "o crack vicia muito, agravando, rapidamente, o problema da dependência química". Embora tenham sua lógica, parecem-nos até paradoxais as explicações que os especialistas da ONU dão para o aumento grande e rápido do consumo de drogas no Brasil, resultante, segundo eles, de dois fatores positivos: o primeiro, é a melhoria da situação econômica brasileira, com mais pessoas passando a fazer parte da chamada classe média - hoje em torno de 51% da população, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Um dos efeitos disso seria a destinação de mais dinheiro para a compra de entorpecentes. O segundo fator seria a melhoria das estatísticas sobre o número de usuários de drogas, em parte pelo aumento das apreensões e em parte pelo aumento do atendimento de viciados nos serviços de saúde. Quer dizer, o País estaria mais bem aparelhado para reprimir as drogas e tratar dos viciados - e por isso apareceriam as quantidades maiores de drogados. Sem contestar o diagnóstico dos especialistas da Unodc, não há como deixar de acrescentar aos fatores mencionados, um outro, de natureza axiológica, relacionado com a quebra geral de valores - na sociedade, em geral, e na família, em particular - que tem levado a um generalizado desregramento de costumes e comportamentos ou a uma ausência de freios morais que estabeleçam os limites que antes subsistiam no convívio civilizado das comunidades, pelo menos no Ocidente. E aqui é oportuno lembrar o que dizia o filósofo Julian Marías, quanto ao fato de o uso das drogas ser incompatível com o tipo de civilização ocidental - embora possa conviver bem com outras, como certos povos indígenas ou orientais -, porque nossa civilização tem como um de seus alicerces fundamentais a racionalidade que herdamos do pensamento greco-romano. E este nos parece, a propósito, o argumento principal contra a ideia que muitos defendem de legalizar o uso de entorpecentes, com base na suposição - já desmentida pela experiência de algumas cidades do mundo - de que seu livre comércio haveria de reduzir seu consumo. O documento da entidade ligada à ONU, aliás, rejeita taxativamente a hipótese de legalização. Ora, se no mundo de hoje há um problema generalizado de perda de valores, por que na sociedade brasileira - e, em especial, em nossa juventude - isso repercutiria de maneira mais intensa, no que diz respeito ao uso de drogas? Em outras palavras, será que o corpo social brasileiro estará mais esgarçado do que o de outros povos do mundo, no tocante à preservação de seus valores? Quando examinamos nosso baixo nível educacional, os volumes de nossa criminalidade e, de modo consectário, os de nossa impunidade, e sobretudo os padrões éticos vigentes em nosso espaço público-político, especialmente nos últimos tempos, pode-se fazer tristes associações. Se no tenebroso capítulo das drogas o País está marchando na contramão do resto do mundo civilizado - e, desgraçadamente, em velocidade espantosa -, há que examinarmos, com a máxima preocupação, até que ponto estamos nos afastando dos princípios e valores que forjaram as melhores democracias do mundo contemporâneo. Anunciou-se em Brasília, após a divulgação do relatório da Unodc, que as Forças Armadas e a Polícia Federal redobrarão os esforços conjuntos para combater a entrada de drogas nas fronteiras. É medida necessária que, no entanto, só será eficaz com o reforço dos valores familiares.
Fonte: Site do Estadão (26/06/2009)

‘Álcoolréxicos’ substituem refeições por bebidas e têm comunidade no Orkut

Maioria dos seguidores é jovem e não quer engordar.
Médicos de SP alertam para os riscos de dependência química.

“Eu sou 'álcoolréxica', mas vivo muito bem assim!!! (...) Pra que comer?? Vamos beber e ficar legal!!”. O trecho desse depoimento que uma jovem deixou no Orkut em março de 2007 resume um tipo de comportamento que tem preocupado os médicos. Homens e mulheres, a maioria na faixa entre 18 e 25 anos, estão substituindo as refeições por bebidas alcoólicas. Para a maioria, o objetivo é emagrecer. Os médicos alertam para os riscos de dependência química.
O termo é recente e, em inglês, pode ser traduzido para drunkorexia. “Dez latas de cerveja valem por um bifinho. Certeza”, diz outra jovem na mesma página da comunidade do Orkut sobre o tema. Uma terceira amiga responde: “e depois de dez latas de cerveja eu sempre quero um bifinho. (...) Vamos parar com essa mamata de ficar comendo. Vamos voltar a beber!”.
O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (Proad), vinculado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), disse que a preferência das pessoas que têm esse vício é pelos destilados. “Se a pessoa bebe cerveja, fica com a barriga estufada. O álcool [nos destilados] suprime o apetite e, tomado em grande quantidade, dá uma sensação de saciedade e certo enjoo da comida”, explicou.

Barriga 'estufada' e incômodo

Formada em administração de empresas, a paulistana Camila (nome fictício), de 36 anos, acredita estar curada do problema. Ela conta que deixava de comer à noite quando saía com os amigos para beber mais e aproveitar “a balada”. Constrangida, não quer se identificar. “Eu substituía o jantar pelo álcool e não tomava cerveja, mas saquê porque é mais levinho, tem menos calorias”, relata.
Camila passou a suprimir os pratos noturnos depois que começou a se sentir incomodada. “Eu comia, ficava estufada e ia para a balada beber cerveja. Então, ficava mais estufada ainda”. De acordo com ela, jantar e sair em seguida causava um desconforto. “A roupa aperta e você se sente mais gorda. Incomoda”. Hoje, sete meses após ter procurado a ajuda de um psiquiatra, Camila considera ter superado o problema. Por orientação médica, parou de comer alimentos mais pesados, como arroz e carne, e colocou no prato saladas e sanduíches feitos com peito de peru e queijo branco. “Foi uma reeducação”.
Camila conta que foi a um psiquiatra a pedido dos amigos, que acharam que ela estava virando alcoólatra. Um dos momentos dos quais não gosta de lembrar foi quando chegou tão bêbada em casa que vomitou na porta do elevador do prédio. As câmeras do circuito interno captaram a cena. “É meio constrangedor”.

Riscos

Acostumado a lidar com dependentes químicos, o psiquiatra Dartiu Xavier não vê os "álcoolréxicos" como “normais”. “É um absurdo. Existem hoje medicações seguras para inibir o apetite. Não justifica usar o álcool, que é tóxico”. De acordo com ele, as pessoas nesse perfil, geralmente, "têm preocupação com o peso".
Também psiquiatra do Proad, Marcelo Niel calculou que, em um ano e meio, atendeu dez pacientes com esse perfil. A maioria era de mulheres. “Por causa da preocupação em não engordar, elas acabam bebendo e evitando a alimentação. É um fenômeno que vejo com frequência. Elas evitam comer para beber mais e escolhem bebidas de menor teor alcoólico”, disse Niel, que não vê o distúrbio como doença e sim um “erro de comportamento”.
Para ele, está ligado aos transtornos alimentares e pode trazer complicações futuras. “O problema é a perda de controle. Se você não se alimenta e só bebe pode virar um alcoólatra e isso traz prejuízos mentais. A pessoa não se alimenta, não se hidrata”, acrescentou o psiquiatra.

Como se fosse água

Ficar quatro dias bebendo sem parar e sem comer é como uma rotina para Mariana (nome fictício), de 19 anos. “Quero emagrecer. Em alguns horários do dia, quando sinto fome, troco a refeição por uma bebida. Geralmente, é vodca”, contou a menina, que mora em Balneário Camboriú (SC). “Bebo como se fosse água”. Medindo 1,65 m e pesando 58 kg, Mariana diz que perde a noção do quanto bebe. Calcula que seja meia garrafa de vodca em um dia. “Quando vejo que vou ficar mal, como alguma coisa. Quando eu comia, engordava com facilidade. Aí resolvi beber”. Questionada se não ficava enjoada ou de ressaca com tanto álcool, respondeu: “acho que meu organismo se acostumou”.

Competição de bebida

Na turma de amigos de Mariana, ela não é a única que tem o perfil dos álcoolréxicos. “Quando a gente está junto, fica competindo para ver quem bebe mais. Só que eu me controlo para não ficar muito mal”, contou ela.
João (nome fictício), de 21 anos, também trocava o arroz e o feijão por algumas doses na mesa de bar ou em casa. “Você se olha no espelho e se vê gordo. Aí passa dois dias bebendo”, justificou ele. O rapaz jura que “parou de fazer isso” há quase dois meses. “Já estou tomando consciência. Vi que não me fazia bem. Como ficava muito tempo sem comer, comia tudo o que via pela frente”.


Matéria: Carolina Iskandarian
Fonte:
http://g1.globo.com

As pedras do crack no caminho da infância

Crianças enfrentam, no único abrigo do Rio, a luta contra a dependência química

Rio - Aos 13 anos, W. troca tudo o que tem para não passar um dia sem o crack. “Ele me chama. Ouço dentro da minha cabeça: sou eu, o crack, vem conversar comigo”, relata o menino, atualmente internado no único abrigo da prefeitura destinado ao tratamento de menores dependentes químicos. O espaço tem 12 vagas, mas só cinco menores estão acolhidos. Um número ínfimo, já que, atualmente, na cidade, estima-se em 500 o número de crianças e adolescentes viciados. Melhorar a estrutura dos abrigos é uma das metas do comitê criado pela Prefeitura para combater o consumo de crack por menores na cidade.
Todos os garotos em tratamento têm entre 10 e 13 anos. A agitação do grupo quebra o silêncio no corredor que liga quartos, banheiro, cozinha, sala de televisão e uma farmácia improvisada. É o universo dos meninos que parecem ter o olhar perdido no horizonte, mas que, na verdade, estão sob efeito de medicamentos para conter as crises de abstinência. “Isso é quase uma casa do Big Brother, tia”, compara um deles. “Acho que estou sendo vigiado. Na rua é bom, porque eu posso tudo, faço o que eu quero. Mas o que eu mais gosto de lá é mesmo o crack”, diz R., 12 anos, que há um ano começou a fumar a pedra. Como todos os que experimentam a fumaça produzida pelos derivados da cocaína —vendida até por R$ 1 e acessível a quem vive na rua — ficou rapidamente viciado.
R. foi um dos 47 menores acolhidos na cracolândia do Jacarezinho, no dia 8. Ele se adianta para explicar como seria a dinâmica dos ‘paredões’ no abrigo. “A eliminação acontece quando a gente consegue fugir. Na rua, é quando se morre de overdose, mas isso eu estou acostumado a ver”, diz o adolescente. Entre os relatos que os monitores ouvem dos garotos, há situações macabras. Como a de que os corpos dos mortos por overdose ou problemas decorrentes do consumo do crack são enterrados pelos traficantes para evitar que se ‘suje’ a área. “É um mito que se propaga. De qualquer forma, tem lógica. Afinal, quase não se tem relato de encontro de cadáver de jovens por overdose”, afirmou o secretário municipal de Assistência Social, Fernando William, levantando uma dúvida sobre o sumiço de corpos de vítimas da droga.
O tratamento para o vício é um desafio. Na unidade onde os adolescentes estão, as perfurações provocadas por chutes e socos, em uma das portas que os isolam da rua, são as marcas do o dependente é capaz de fazer quando vive sob privação. Em momentos de crise, quebram ventiladores, se debatem, agridem os educadores.
Nessas horas, todo cuidado é pouco. Umas das prevenções no dia a dia é manter a sala de primeiros-socorros trancada e esconder desodorantes e perfumes. “Se tiverem em abstinência, eles bebem mesmo”, diz uma das funcionárias da unidade.
Interpretação do ECA divide especialistas
No abrigo da prefeitura, pelo menos na fase inicial, os dependentes químicos ficam isolados em uma parte do prédio. A interpretação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é um dos motivos de polêmica. Há quem defenda que o tratamento fechado não é o mais adequado. No entanto, para a coordenadora de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Defensoria Pública, Simone Moreira de Souza, esse discurso é uma forma de ‘lavar as mãos’ do problema. “Se a lei diz que o Estado deve preservar a integridade das crianças e, se há necessidade de mantê-la internada, isso tem que prevalecer. Não temos no Rio, atualmente, uma instituição pública em regime de internação para crianças. A unidade da prefeitura está muito distante de ser a ideal”, afirma.

Poucas chances de chegar à vida adulta

L., 10 anos, quer ser médico. R., 12, policial do FBI. W., 13, jogador de futebol. Os sonhos são grandes, mas se o tratamento for interrompido, são mínimas as chances de os garotos chegarem à fase adulta. Em média, o viciado de crack morre em dois anos. Apesar da pouca idade, eles mostram ter noção do perigo. “A única opção que eu tinha é o cemitério”, diz R., antes de deixar a sala de videogame e partir para uma luta de ursos de pelúcia com os colegas de abrigo.
Para o médico João Carlos Dias, um dos diretores da Associação Brasileira de Psiquiatria, o vício requer análise sobre as formas de tratamento: “O crack chega muito rapidamente ao cérebro. Isso é tão sério que arrisco dizer que não sei ainda qual é o melhor tratamento para um viciado dessa droga”.

Matéria: CHRISTINA NASCIMENTO
Fonte: O dia Online – Rio de Janeiro/RJ
Site:
http://odia.terra.com.br

"Os números do tabagismo no mundo são alarmantes"

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, a cada dia, 100 mil crianças tornam-se fumantes em todo o planeta.
Cerca de cinco milhões de pessoas morrem, por ano, vítimas do uso do tabaco.
Caso as estimativas de aumento do consumo de produtos como cigarros, charutos e cachimbos se confirmem, esse número aumentará para 10 milhões de mortes anuais por volta de 2030.
Ainda segundo a OMS, o fumo é uma das principais causas de morte evitável, hoje, no planeta. Um terço da população mundial adulta – cerca de 1,3 bilhão de pessoas – fuma aproximadamente 47% da população masculina e 12% da população feminina fazem uso de produtos derivados do tabaco.
Nos países em desenvolvimento, os fumantes somam 48% dos homens e 7% das mulheres, enquanto nos desenvolvidos, a participação do sexo feminino mais do que triplica, num total de 42% de homens e 24% de mulheres fumantes.
No Brasil, pesquisa realizada recentemente pelo Ministério da Saúde, por meio do Instituto Nacional de Câncer (Inca), indica que 18,8% da população brasileira é fumante (22,7% dos homens e 16% das mulheres).

VOCÊ SABIA?
• Que a fumaça do cigarro reúne, aproximadamente, 4,7 mil substâncias tóxicas diferentes e muitas delas são cancerígenas?

• Que o tabagismo está ligado a 50 tipos de doenças como câncer de pulmão, de boca e de faringe, além de problemas cardíacos?
• Que, no Brasil, 23 pessoas morrem por hora em virtude de doenças ligadas ao tabagismo?
• Que crianças com sete anos de idade nascidas de mães que fumaram 10 ou mais cigarros por dia durante a gestação apresentam atraso no aprendizado quando comparadas a outras crianças?

Fonte: www.saude.gov.br

“Dependência pode atingir 40% dos que consomem bebida alcoólica”

Quarenta por cento das pessoas que consomem bebidas alcoólicas podem ter algum tipo de dependência, mesmo sem saber ou admitir.
É o que aponta levantamento da Secretaria de Estado da Saúde, por intermédio do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), órgão da pasta, realizado na cidade de São Paulo ao longo de 2007.
Os dados foram coletados em ações para orientação e prevenção ao uso de substâncias psicoativas realizadas em locais de grande circulação da cidade, como Parque da Luz, Pátio do Colégio e avenida Paulista. Profissionais do Cratod aplicaram o teste Assist (Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening), de padrão internacional, que permite verificar se a pessoa precisa de algum tipo de orientação ou encaminhamento em relação ao consumo de álcool, cigarro ou drogas ilícitas.
Das 250 pessoas que disseram já ter feito uso de bebidas alcoólicas, 100 foram avaliadas como dependentes em potencial, das quais 47 receberam orientações gerais sobre os riscos do consumo excessivo de álcool e 53 foram encaminhadas para serviços gratuitos de tratamento a alcoólatras.
Dos que já haviam experimentado cigarro ou derivados de tabaco, também ouvidos na pesquisa, 50,6% foram considerados como potenciais dependentes. E 30,7% dos que usaram cocaína ou crack tiveram a mesma avaliação.
A proporção de dependentes para maconha foi de 22,5%, e de 9% para anfetaminas ou ectsasy.
O levantamento ainda apontou que 27,2% dos que consumiram bebida alcoólica já tentaram alguma vez diminuir o uso e não conseguiram.
Já para 29,2% o consumo de álcool já resultou em algum problema de saúde, social, legal ou financeiro.
E 34,4% informaram que parentes ou amigos já se mostraram preocupados com o uso de bebidas pelos entrevistados.
“A bebida alcoólica é socialmente mais aceita, mas não deixa de ser perigosa. A cerveja da happy-hour todos os dias, a pinga adocicada nas baladas e o uísque nos finais de semana podem trazer sérios prejuízos à saúde, além de aumentar o risco de acidentes”, afirma a diretora do Cratod, Luizemir Lago.

Autoria: Assessoria de Imprensa - 26/06/08
Fonte: Secretária da Saúde SP